“É necessário os bombeiros treinarem cada vez mais”
2022-07-12 13:38:08

Depois de esperar pacientemente pelos 18 anos de idade, pode finalmente concretizar um sonho de criança: tornar-se bombeiro e ajudar a salvar vidas. Para isso, dirigiu-se ao Corpo de Bombeiros Voluntários de Bucelas e fez a sua inscrição, apesar da relutância dos progenitores. João Telmo Simões dos Santos Reis nasceu a 4 de maio de 1976, em Lisboa.  Anos depois de iniciar o seu percurso profissional como bombeiro, em 2001, recebe o convite da Escola Nacional de Bombeiros (ENB) para ingressar nos quadros enquanto técnico de formação. Por outras palavras, a oportunidade de trabalhar a tempo inteiro naquilo que realmente gostava. Licenciou-se em Geografia e Desenvolvimento na Universidade Lusófona de Lisboa, onde concluiu a Pós-graduação em Geografia para a Proteção Civil e Desenvolvimento Territorial. Muitas foram as formações que frequentou ao longo da sua carreira, como por exemplo, Formador SAVER-CITO (ICET-Falck Risck), Formador Salvamento Ferroviário (ICET-Falck Risck) e de Defesa Nuclear, Biológica e Química (Exército Português). Atualmente, é o Coordenador da Área Técnico de Salvamento e Desencarceramento (SD) da ENB. 

 

Como se tornou bombeiro?
Para além de ter familiares ligados aos bombeiros, desde muito pequeno que tive um fascínio por sirenes e veículos de bombeiros, contudo os meus pais não me deixavam ser bombeiro, diziam que era demasiado perigoso. Aos 18 anos, quando já não necessitava da assinatura deles para o poder ser, inscrevi-me no Corpo de Bombeiros Voluntários de Bucelas.

 

Sempre quis ser formador?
O querer ser formador não foi algo que tivesse presente desde sempre, contudo, após intervir no primeiro acidente com encarcerados, e frequentando o primeiro curso de SD, ainda de 19 horas, verifiquei que a área de SD era efetivamente a minha paixão, e tudo começou a partir dai. A forma que tinha na altura para evoluir na área era tornando-me formador de SD e foi o que fiz. Mais tarde formador de TAT e a partir daí o querer evoluir. Em 2001 recebi o convite da ENB para ingressar nos seus quadros enquanto técnico de formação e tive a oportunidade trabalhar a tempo inteiro, naquilo que realmente gostava de fazer.

 

Portugal regista todos os anos um número elevado de vítimas de acidentes rodoviários… Os bombeiros estão bem preparados para responder a esta realidade?
Portugal esta no top seis dos países europeus com mais mortes na estrada. É esta a realidade. Contudo, acho que os bombeiros tem dado uma excelente resposta, e têm contribuído de forma efetiva para a diminuição das mortes por acidente rodoviário em Portugal. De 2006 até aos dias de hoje o número de acidentes e feridos tem sido mais ou menos constante e o número de mortes tem vindo a diminuir progressivamente. No entanto, podemos e devemos melhorar, em tudo o que estiver sob a nossa responsabilidade como é o caso do socorro nas estradas. Para isso, é necessário os bombeiros treinarem cada vez mais.  Mas a melhoria das estatísticas passa também por uma consciencialização dos condutores e da segurança rodoviária, para se conseguir diminuir o número de acidentes.

 

O que poderia ser feito para diminuir o número de vítimas nas estradas?
A melhoria das estatísticas passa por uma boa sensibilização dos condutores, melhoria da segurança rodoviária de forma a diminuir o número de acidentes. Contudo, os bombeiros têm de ter a perspetiva da melhoria contante e isso só se consegue com treino, de forma a otimizar procedimentos e a operacionalidade das equipas. Só fomentando a instrução e o treino, levando à evolução dos bombeiros e não à estagnação.

 

Quais os principais desafios que se colocam, atualmente na área do SD?
Para mim, o grande desafio da área de formação de SD, neste momento e no futuro, está associado à evolução contante da indústria automóvel, no que diz respeito a formas de propulsão e desenvolvimento de sistemas de segurança, que visam evitar a ocorrência de acidentes e ou minimizar aos danos aquando da ocorrência destes. O desenvolvimento de técnicas e procedimentos, cada vez mais simples em termos de execução, que permitam otimizar o tempo até a extração das vítimas por parte das equipas de SD. Estes fatores obrigam por parte da ENB a investigação e estudo contantes por forma a fazer a adequação de procedimentos que vão ao encontro da realidade com que os bombeiros se deparam num acidente rodoviário.

 

Quer recordar algum episódio marcante da sua carreira profissional?
Tenho muitos episódios, porém não gostaria de particularizar nenhum. Acho que o que marca um formador é ver a evolução dos formandos, quer numa ação de formação, quer aos longo da vida. Em 21 anos de escola, tenho acompanhado muitas vidas e a suas lutas incessantes pela evolução constante, em fases distintas das suas vidas e isso é realmente marcante. 

 

Tem algum passatempo com que ocupa os tempos livres?
Os meus tempos livres são diminutos, no entanto, para além de os passar com o meu filho, gosto muito de ler, sou columbófilo, e dedico-me à agricultura em terras de família.

 

Como vê o futuro dos Bombeiros em Portugal?
O Futuro dos Bombeiros, será o que estes quiserem, se existir respeito por nós próprios, pela regras e procedimentos instituídos bem como pelos demais parceiros. A demonstração de uma imagem de força, unidade, saber e eficiência, será essencial para a garantia do futuro.

 

 

Conselhos e recomendações - Salvamento e Desencarceramento

 

           Salvar mas em segurança

 

A intervenção em acidente rodoviário, refere o coordenador João Reis, requer a existência de condições de segurança para a equipa, para a vítima e para as demais pessoas, sejam agentes de proteção civil ou simplesmente curiosos, que possam circular na zona onde se desenvolvem as operações de socorro.
Assim, para garantir a segurança nas operações de socorro em acidente rodoviário, deve-se assegurar que:

  • A equipa de socorro tem equipamento de proteção individual adequado à missão;
  • Sinalização do acidente, proteção do local através de estacionamento defensivo;
  • Implantação de zona interior de trabalho e zona exterior de trabalho;
  • Zonas de trabalho desimpedidas de destroços e curiosos;
  • Estabilização do local, estabilização dos veículos e estabilização progressiva;
  • Proteção da vítima através de proteção maleável e transparente e proteção rígida;
  • Extrair a vítima em segurança, garantido que não lhe são causadas novas lesões durante a extração.
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