Carlos Ramalho nasceu em Odivelas em 1964. Ingressou em 1989 no Corpo de Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém. Em 1998 iniciou a atividade como formador externo na Escola Nacional de Bombeiros (ENB), após se ter candidatado a um concurso para formador a área de Salvamento e Desencarceramento. Em março de 1999 concluiu a formação de formador do então Curso de Condução Todo-o-Terreno. Desde 19 de outubro de 2009 que é coordenador da área técnica de Condução Fora de Estrada da ENB.
Sempre quis ser bombeiro?
Foi uma área pela qual sempre senti algum fascínio, os veículos de bombeiros, o socorro, tudo isso me levou a ingressar nos Bombeiros de Agualva-Cacém em 1989. Comecei como motorista civil e depois tornei-me bombeiro voluntário. Mais tarde ingressei como funcionário na associação humanitária do Corpo de Bombeiros e conclui o curso de Tripulante de Ambulância de Socorro (TAS) na ENB.
Um episódio marcante que nunca esquece…
A vida de bombeiro é repleta de episódios marcantes. Em todos ou quase todos os domínios. Contudo, um dos episódios mais marcantes foi a primeira vez que estive como formador em frente a uma turma para iniciar uma ação de formação. A insegurança, as dúvidas, os receios de que algo pudesse não correr bem, tudo isto se traduziu num nervoso miudinho difícil de esquecer.
Quando se tornou formador e porquê?
Adoro aprender e adoro ensinar. Esta é a minha praia. Tendo em conta que a condução, os veículos e a mecânica em geral são áreas pelas quais sempre me senti atraído, é claro que esta era a minha área de eleição. Já antes de ser formador da ENB estive ligado ao departamento de formação do Corpo de Bombeiros a que pertenço.
O modelismo é outra das grandes paixões. Como começou?
Na realidade o modelismo não fazia parte dos meus interesses. O que me interessa de facto é a mecânica e os veículos. No entanto, descobri o modelismo através de um familiar, que me ofereceu um modelo em escala e que me ajudou a concretizar ideias que tinha em relação à utilização das miniaturas para fins pedagógicos e de formação. O detalhe dos mecanismos é surpreendente. Desde então, já utilizei várias peças de modelismo no contexto da formação. Existe no mercado uma panóplia enormíssima de artigos relacionados com esta temática que nos permite reproduzir a grande maioria dos dispositivos que são abordados na formação. Alguns destes artigos podem ser conseguidos através da impressão 3D.
É um passatempo que colocou ao serviço da formação?
Não direi que é um passatempo. Trata-se mesmo de uma área de interesse que me tem trazido algumas vantagens. Um diferencial real pesa entre 30 a 40 quilos. Tenho maquetas reais de tudo ou quase tudo: caixas de velocidade, sistemas de travagem, caixas de direção, turbos, embraiagens diferenciais e muitos outros. No entanto, são componentes metálicos extremamente pesados. O modelismo tem quase tudo o que é necessário numa escala bem mais reduzida. Obviamente obriga a algum investimento, a nível de tempo e principalmente em termos de custos.
A ENB é a sua segunda casa…?
À semelhança do que já aconteceu no corpo de bombeiros, a Escola é por vezes a primeira casa, dado o tempo que dedico à ENB. Tenho o privilégio de trabalhar na ENB e de fazer, profissionalmente, algo de que gosto muito. E poder fazer algo de que se gosta muito deve ser visto como um privilégio.
Infelizmente, a condução de veículos continua a ser um problema do qual resultam vítimas e danos materiais avultados… O que fazer para melhorar os indicadores?
O que se pode fazer é formar, sensibilizar, alertar. Um espírito crítico construtivo faz-nos crescer. O que se pode fazer mais? Dou um exemplo. Para se poder conduzir um veículo no transporte coletivo de crianças, os motoristas são obrigados a fazer formação. O mesmo acontece com os taxistas, os TVDE, entre outros. Contudo, para se conduzir uma ambulância, não é obrigatório fazer qualquer formação. Apenas é necessário um averbamento, ou seja, um ato quase meramente administrativo. Isto não faz sentido. Os bombeiros motoristas que exercem funções em Corpos de Bombeiros deveriam ser todos chamados a fazer formação específica, nomeadamente, condução defensiva e fora de estrada no contexto de combate a incêndios rurais. Só integraria os quadros de motoristas quem fizesse essa formação, estabelecida através de legislação.
Como vê o futuro dos bombeiros em Portugal?
Tantas vezes ouvimos dizer que os bombeiros são o maior exército de Portugal. O futuro dos bombeiros está naturalmente assegurado. Há apenas que seguir o caminho já traçado, respeitar as instituições, respeitar as regras estabelecidas, uniformizar essas mesmas regras e olhar para dentro de nós com orgulho em servir e saber servir. Os bombeiros têm de parecer o que são na realidade: grandes. O resto é ruído.
Conselhos e recomendações
A segurança na condução depende de diversos fatores, mas sobretudo depende do comportamento do motorista, considera o coordenador da área técnica de CFE da ENB, Carlos Ramalho. Ao motorista, enquanto operador de uma máquina que circula num espaço partilhado com outros utentes, cabe a responsabilidade de se manter apto e preparar-se a cada momento para cada viagem que inicia. A condição física e psíquica, o respeito pelos demais utentes e o cumprimento das regras, são determinantes para que todos cheguem ao seu destino em segurança. O coordenador Carlos Ramalho destaca alguns aspetos que considera fundamentais em termos de segurança na condução:
• Descansar bem antes de cada turno de trabalho;
• Parar/descansar a cada duas horas consecutivas de condução;
• Não tomar refeições “pesadas” antes de conduzir;
• Não ingerir bebidas alcoólicas;
• Não usar substâncias psicotrópicas;
• Não conduzir sob efeitos de medicação;
• Usar sempre o cinto de segurança corretamente colocado e ajustado;
• Respeitar os limites de velocidade;
• Respeitar as distâncias de segurança;
• Respeitar os outros utentes da via;
• Ser tolerante;
• Ver e ser visto;
• Garantir uma manutenção preventiva do veículo;
• Fazer verificação diária aos “pontos sensíveis” do veículo;
• Formar-se e informar-se;
• Respeitar as regras da formação/instrução.