“Só se levanta para ensinar aquele que se sentou para aprender”
2022-05-02 10:27:26

 

Entrou para os Bombeiros com apenas 15 anos de idade e atualmente faz parte do Quadro de Honra do Corpo de Bombeiros Voluntários da Amadora. Jorge Fernandes nasceu em Luanda no ano de 1963. Em 2001, a convite da Direção da Escola Nacional de Bombeiros (ENB), deu seguimento à sua carreira na escola como formador em emergência pré-hospitalar e noutras áreas formativas. Ainda chegou a frequentar o primeiro ano da licenciatura na área de segurança da Proteção Civil, mas não a conclui. Ao longo do seu processo de crescimento, enquanto formador, procurou sempre saber mais para ensinar melhor. Daí a atitude de se esforçar para ir a todas as formações que consegue.

 

O que o levou a ser bombeiro? 
O fascínio pelos bombeiros e gostar de ajudar as pessoas de uma forma em geral. Isso fez com que aos 15 anos, em 1979, me inscrevesse como cadete nos Bombeiros Voluntários da Amadora. 

 

Quando descobriu a vocação para ensinar? 
Foi quando frequentei o curso de Tripulante de Ambulância de Socorro (TAS), em 1991. Ganhei o gosto pela emergência médica, embora os bombeiros continuassem a criar em mim um fascínio grande. A partir daí soube que gostaria de passar os meus conhecimentos aos outros. Tirei o Certificado de Competências Pedagógicas (CAP) em 1993 e integrei o grupo de bombeiros que construiu um curso de Primeiros Socorros, aquele que é hoje o curso de Tripulante de Ambulância de Transporte (TAT). Embora tivesse a duração de 70 horas, procurava responder a uma lacuna que existia na altura na área da emergência pré-hospitalar. Foi ministrado nos Corpos de Bombeiros da zona de Sintra e Amadora. Em 1992 passei a integrar a tripulação das ambulâncias do INEM, percebi que a emergência médica era a área que queria seguir. Três anos depois, fiz um curso de 300 horas, para ser formador do INEM.  

 

Como surgiu a ENB no seu percurso profissional?
Foi em 2001, depois de um interregno de um ano, surgiu o convite do Prof.º Dr. º Luciano Lourenço, ex-Presidente da Direção da ENB, para formador na área da emergência pré-hospitalar, uma vez que estava a ministrar cursos TAS. Estou cá até hoje. Sou também formador nas áreas de Salvamento e Desencarceramento, Matérias Perigosas, da qual fui responsável durante os primeiros anos, e Quadros de Comando. 

Certamente que existem episódios marcantes que nunca se esquecem na vida de formador? Quer recordar algum? 
O facto de poder transmitir conhecimentos aos outros, incluindo a médicos e enfermeiros. E não tem sido apenas na escola, também por esse país fora, de Bragança a Vila Real de Santo António. É gratificante sentir que se ajudou a fazer a mudança nos bombeiros, no sentido da responsabilidade e do saber fazer, seguindo o lema da escola: “Saber para Servir”. O meu processo de crescimento como formador foi sempre acompanhado pela atitude de procurar saber mais para ensinar melhor. Tenho uma frase que é a seguinte: “só se levanta para ensinar aquele que se sentou para aprender”. Por isso, procuro ir a todas. Em 2021 fiz 53 horas de formação certificada. 

 

Tem algum passatempo com que ocupa os tempos livres? 
São um pouco reduzidos os meus tempos livres. Durante 40 anos estive ativo nos bombeiros e a minha vida tem sido trabalho e bombeiros. Sempre na perspetiva de construir um futuro melhor para mim e quem me rodeia. Mas gosto de passear, fotografar e sou muito ligado às tecnologias. Procuro acompanhar a evolução tecnológica e o conhecimento científico que servem de apoio ao que fazemos. 

 

Quais os principais desafios que se colocam atualmente na área do pré-hospitalar?
Acima de tudo, a enorme evolução na área do conhecimento, o que levará a alterar procedimentos e técnicas considerados adequados até hoje. Em virtude das evidências científicas, será necessário repensar todo este conceito da assistência a vítimas de trauma, qualquer que seja o acidente. E, obviamente, para que isto aconteça, é importante colocar em causa o que sempre fizemos e estar disponível para discutir e implementar novos conceitos, sempre com base nas evidências científicas. A formação de tripulantes também carece de uma reflexão profunda, uma vez que o curso TAS viu reduzida a sua componente formativa. É preciso colocar esta formação no sentido correto. Por exemplo, há estágios em ambulâncias que não são controlados o suficiente. No fundo, é preciso reforçar a componente formativa presencial. Ao nível dos conteúdos programáticos, também há uma necessidade imperiosa de reformulação, tendo em vista a atribuição de maiores competências técnicas na prestação de socorro diferenciado e generalizado, em todo o país. 

 

Como vê o futuro dos bombeiros em Portugal? 
Acho que o futuro pode ser muito risonho e positivo. No entanto, tudo vai depender e muito dos bombeiros e das instâncias que os integram. Isto porque os bombeiros de há 40 anos são completamente diferentes dos de hoje. Têm outros interesses e atividades disponíveis. Tudo conduz a que seja uma atividade difícil, pelas próprias exigências da farda, que não se pode compadecer com amadorismos. As vítimas ou doentes quando são socorridos não olham a fardas ou entidades, querem é ser socorridos devidamente. Por isso, importa muito a valorização da profissão e a formação profissional. Quero terminar por agradecer a todos aqueles que de alguma forma partilharam comigo ao longo destes anos os conhecimentos e a experiência na prestação de socorro, sem olhar a quem. 

 

 

Conselhos e recomendações – Pré-hospitalar

     

     Salvar mas em segurança

No que diz respeito à área técnica de emergência pré-hospitalar, quando se fala em conselhos e regras que nunca devem ser esquecidos durante uma situação de emergência, o formador Jorge Fernandes recomenda, desde logo, que é necessário um investimento regular e consistente na formação base de saúde, nomeadamente, na área dos primeiros socorros.
O coordenador da ENB destaca, de entre as várias opções formativas disponíveis, o suporte básico de vida, o saber contatar com a linha de emergência 112, assim como outro tipo de intervenções que todos podem implementar, nomeadamente, os chamados gestos que salvam vidas. Jorge Fernandes sublinha ainda a enorme importância de manter sempre presente a noção de que para socorrer alguém, primeiro é preciso zelar pela sua própria segurança.

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