Cresceu no seio de uma família de bombeiros, o que contribui para desde cedo sentir o fascínio pelo mundo dos soldados da paz. Nuno Duarte, natural de Lisboa, começou por desempenhar funções administrativas na Escola Nacional de Bombeiros (ENB), em 2000. Na mesma casa, oito anos depois, iniciou o seu percurso como técnico de formação, tendo concluído em 2017 a licenciatura em Educação, na Universidade Aberta. Hoje é o coordenador da Área Técnica de Acidentes com Matérias Perigosas.
O que o levou a ser bombeiro?
A vontade de ser bombeiro veio de família, cresci ao lado de um corpo de bombeiros, sendo o meu pai, tio e primos todos bombeiros. “O bichinho” estava enraizado logo desde muito pequeno. Foi o crescer e viver intensamente este mundo dos bombeiros.
Como descobriu a vocação para ensinar?
Sou colaborador da ENB desde o ano de 2000, desempenhava funções administrativas no economato e fazia o serviço externo. No ano de 2008 surgiu a oportunidade, pelo Dr. Duarte Caldeira, Presidente da direção da ENB na altura, de passar para técnico de formação. Tem sido uma aprendizagem constante e uma verdadeira paixão em ensinar partilhar experiências e saberes, mas mais importante o poder aprender todos os dias. No ano de 2017 concluí a licenciatura em educação, o que me permitiu fortalecer as ferramentas usadas em ministrar formação.
Quer recordar algum episódio marcante enquanto bombeiro ou formador?
No ano de 2016 sofri um acidente ao serviço dos bombeiros, uma queda num poço sem água de uma altura de 16 metros, fui eu e o meu chefe na altura, Jorge Simão. Fazia parte dos Bombeiros de Agualva Cacém. Estávamos a proceder ao reconhecimento para o salvamento de um gato, quando de repente o chão desabou, já estávamos em cima da tampa do poço, mas como estava coberto de terra e vegetação não nos apercebemos. Foi complicado o salvamento, as dores eram insuportáveis e o risco de derrocada das paredes do poço era uma constante. Foram duas horas terríveis. Foi neste salvamento que senti na pele, o profissionalismo e as emoções com que nós bombeiros lidamos e trabalhamos. Foram cinco meses de recuperação, e durante esse tempo foi de salientar a preocupação, o apoio e carinho que recebi de bombeiros amigos, com o quais partilhei horas de formação de norte a sul e ilhas do país.
Quais os principais desafios que se colocam, atualmente, na área de Acidentes com Matérias Perigosas?
Enumero como o verdadeiro desafio, a necessidade de treino, quem não pratica esquece. A formação é um fator primordial, mas sem treinar ou relembrar os conceitos e os procedimentos de intervenção, estes acabam por cair no esquecimento. A casuística de acidentes com matérias perigosas felizmente é muito pouca, no entanto, temos de estar bem preparados para intervir nestas situações.
Como vê o futuro dos bombeiros em Portugal?
Vejo o futuro dos bombeiros com esperança, expectativa e muita preocupação. A saída de muitos e a falta de entrada de novos bombeiros, provocada em parte pela evolução da sociedade, parecendo que falta tempo para tudo, aliado à falta de incentivo e de reconhecimento, tem feito com que seja menos aliciante ser bombeiro. É urgente serem criadas melhores condições para os bombeiros!
Tem algum passatempo com que ocupa os tempos livres?
Os meus tempos livres na verdade são passados em grande parte no meu Corpo de Bombeiros, em turnos renumerados, a ministrar instrução ou formação. Considero esse o meu verdadeiro hobby. Fazendo na verdade o que gosto de fazer!
Quando o cenário de operações envolve Acidentes com Matérias Perigosas, o coordenador Nuno Duarte deixa alguns conselhos e regras que nunca devem ser esquecidos para fazer face a uma situação de emergência e socorro:
Para o bom desempenho da função de bombeiro, refere o coordenador, é preciso não esquecer as quatro regras a ter presentes num acidente envolvendo matérias perigosas:
1. Não se precipite
Mantenha a calma, pare e pense bem na decisão que está a tomar!
2. Não suponha nada
Não pode haver incertezas ou especulações, a obtenção de informações concretas dos acontecimentos é fundamental!
3. Não prove, não toque, não respire, nem coma nada
Evite ao máximo qualquer risco de ficar contaminado!
4. Não se converta numa vítima
Não corra riscos desnecessários, a nossa segurança acima de tudo!