Com apenas 12 anos de idade, depois de assistir a uma formatura de bombeiros, decidiu ingressar como Cadete no Corpo de Bombeiros Voluntários de Loures. Numa madrugada de agosto de 1988 foi um dos que ajudou a combater com sucesso o incêndio nos Armazéns do Chiado, em Lisboa, experiência que nunca mais esqueceu. Pedro Cunha, nasceu em Loures, em 1969, tornou-se bombeiro em 1982 e é atualmente o responsável pelo Centro de Simulação e de Realidade Virtual da Escola Nacional de Bombeiros (ENB), casa para onde entrou em 2001. Para além de ter ministrado formação em muitas áreas, tem participado ativamente na organização e execução de exercícios e projetos de âmbito europeu.
O que o levou a ser bombeiro?
Quando tinha 12 anos, assisti a uma formatura dos bombeiros da minha terra, Loures, e vi plasmado naquelas faces jovens, orgulho e brio. A semente foi plantada e após um ano de negociação com a minha mãe, lá consegui em novembro de 1982 ingressar como Cadete no Corpos de Bombeiros de Loures.
Como descobriu a vocação para ensinar?
Conforme fui progredindo na carreira de bombeiros, até chefe, e mais tarde como 2º Comandante, fui nomeado para integrar a equipa de instrutores das escolas de recruta. Mais tarde fui responsável pela instrução dos novos bombeiros, já como chefe. Adorava ver os meus recrutas suplantarem-se a si próprios, a vencerem os medos, dificuldades e inibições. Foi este o rastilho para o ensino e desde então não parei mais de ministrar formação nas mais diversas áreas.
Quer recordar algum episódio marcante enquanto bombeiro ou formador?
Um dos episódios acontece numa madrugada de agosto de 1988, fui ativado para um incêndio que decorria na baixa lisboeta, mais precisamente na zona dos armazéns do Chiado, a sensação que não esquecerei foi a de estar a entrar num autêntico cenário de guerra muito semelhante ao que se assiste nos documentários sobre a 2ª Guerra Mundial, ou agora, por ocasião da invasão russa à nação soberana da Ucrânia.
Já enquanto formador, cada vez que represento a ENB, e desta forma represento também os Bombeiros Portugueses e a nossa Pátria em projetos, exercícios ou formação em instituições estrageiras, constato com satisfação que cada vez mais, a ENB é uma instituição de ensino reconhecida, acreditada e admirada, que os Bombeiros Portugueses em nada se têm de minimizar perante os nossos companheiros de outros países pois estão ao mesmo nível, se não até, em alguns casos, superior.
Quais as vantagens da tecnologia de simulação e realidade virtual aplicadas à formação de bombeiros?
As vantagens são inúmeras, mas as mais relevantes são a ausência de risco, a economia de recursos materiais e financeiros e, claro está, a possibilidade de repetir inúmeras vezes os cenários de forma rápida.
Podemos também acrescentar um outro aspeto importante que é expor os nossos formandos a situações que habitualmente não conseguem experienciar aumentando a sua capacidade para identificar diferentes situações e, consequentemente, melhorar a sua capacidade de avaliação da situação.
Como vai ser o futuro neste domínio?
A realidade virtual como ferramenta na formação dos serviços de emergência está ainda nos seus primeiros passos, creio que de futuro terá amplo uso, possivelmente com recurso a realidade aumentada que introduz maior fidelidade na informação visualizada.
Como vê o futuro dos bombeiros em Portugal?
Vejo com um misto de entusiasmo, mas também de alguma preocupação. Entusiasmo, porque cada vez mais os bombeiros têm acesso a mais e melhor formação permitindo-lhes enfrentar com eficácia os novos desafios que lhes são apresentados. Preocupação, porque verifico uma enorme flutuabilidade e rotatividade no seio dos corpos de bombeiros o que leva a perda de saber acumulado e experiência.
Tem algum passatempo com que ocupa os tempos livres?
Sou um cinéfilo. Adoro uma tarde de cinema, seja em casa com a família, seja numa sala de cinema. Além disso dou assistência pré-hospitalar a pessoas em condição de sem abrigo pela Associação Paulo J Bento.
O formador Pedro Cunha recorda alguns conselhos e regras que nunca devem ser esquecidos durante uma situação de emergência, nomeadamente, no que respeita à responsabilidade do processo de decisão e à avaliação de risco.
Durante uma emergência, o decisor deverá ter sempre em mente as prioridades de atuação versus as regras de empenhamento. Lembrar que, apesar da atividade de bombeiro ser intrinsecamente perigosa, só devemos correr risco, dentro do aceitável, em situações de vidas ou bens viáveis. Tenham consciência de quando adotar uma atitude ofensiva e quando adotar uma atitude defensiva.
Relativamente a conselhos úteis para o bom desempenho da função de bombeiro, na área técnica em questão, é fundamental desenvolver uma boa capacidade de síntese de informação, evitar o envolvimento emocional e combater a visão de túnel que ocorre quando se está demasiado próximo. Não façam micro gestão, sublinha o formador, confiem nos vossos subordinados, mas definam para eles, claramente, objetivos específicos, mensuráveis, atingíveis, relevantes e limitados no tempo.