Nasceu no seio de uma família com forte ligação ao setor dos Bombeiros e aos 15 anos entrou como cadete para o Corpo de Bombeiros de Valpaços. Luís Araújo é formador da Escola Nacional de Bombeiros (ENB) desde 1999, ano em que deu início ao seu percurso profissional e à sua especialização na área dos incêndios urbanos. Atualmente, é formador no Centro de Formação em Incêndios Urbanos e Industriais de São João da Madeira.
Quando tomou a decisão de ser bombeiro?
A decisão de ser bombeiro vem de família, pois o meu pai foi comandante por dois períodos e desde miúdo andei pelos bombeiros. Aos 15 anos entro como cadete, mas só em 1978 sou inscrito na Inspeção Regional de Bombeiros do Norte. Fiz uma passagem de dois anos no quadro ativo na categoria de bombeiro de 3ª e em 1982 sou nomeado Ajudante de Comando (antiga designação do cargo de Adjunto de Comando, ndr).
De 1983 a 1987 assumi interinamente o comando dos bombeiros e nesse ano entra para comandante o meu caro amigo Carlos Pereira que esteve em funções até 1993, ano em que fui nomeado 2º Comandante, ficando mais uma vez a comandar interinamente até 1995. Nesse ano resolvi assumir o comando até 2004, ano em que peço a passagem ao Quadro de Honra. Em 2012 volto ao comando dos bombeiros até 2014 e desde aí voltei ao Quadro de Honra.
Como descobriu a vocação para ensinar?
Desde bombeiro de 3ª comecei a dar formação à escola de Aspirantes e com a nomeação a Adjunto de Comando, frequentei o curso de elementos de comando e formações com bombeiros canadianos e chilenos, no uso de material sapador no combate a incêndios florestais, conhecimento esse que fui transmitindo ao Corpo de Bombeiros.
Com o trágico acidente ocorrido em 1997 na Pirotecnia da qual era socio, fico sem trabalho e em 1998 abre o Centro de Formação de Bragança e sou convidado pelo coordenador do centro para dar formação na área dos incêndios florestais.
A 13 de Janeiro de 1999 sou admitido como formador da ENB, dando início ao meu percurso profissional e a minha especialização.
Em 2005 abre o centro de Formação de São da Madeira onde foram ministrados os primeiros cursos de combate a incêndios urbanos e industriais para a cooperação transfronteiriça Portugal Espanha; desde esse momento começou a nível nacional a formação de combate a incêndios urbanos e industriais, bem como a sensibilização e uso de equipamentos de proteção individual.
Quer recordar algum episodio marcante enquanto bombeiro ou formador?
Muito podia dizer sobre episódios marcantes passados como bombeiro, alguns recordo com saudade dos momentos vividos e outros com muita tristeza que guardo para todo o sempre. Como formador, ao longo destes 24 anos e com passagem pelos quatro centros de formação da ENB, guardo memorias de boa camaradagem, aprendizagens e lições de vida inesquecíveis com quem partilhei de norte a sul, não esquecendo o arquipélago da Madeira. As passagens por Angola, Guiné e duas vezes por São Tomé, marcaram-me como formador e pessoa na forma humilde e vontade de aprender, apesar de serem povos com muitas necessidades.
Quais os principais desafios que se colocam, atualmente, na área dos incêndios urbanos?
Não é fácil enumerar os principais desafios nos Incêndios Urbanos, pois cada caso é um caso, não há incêndios iguais. Com a implementação da Segurança Contra Incêndios em Edifícios, muito se tem melhorado com a aplicação de matérias com um adequado grau de reação ao fogo, bem como a devida compartimentação. Mesmo assim diversos desafios se colocam nos incêndios urbanos e que tem muito a ver com o tipo de ocupação. É essencial o conhecimento das técnicas a aplicar.
Tem algum passatempo com que ocupa os tempos livres?
Nos meus tempos livres, além de gostar de caminhar o que faço quase todos os dias e quando a disponibilidade do serviço o permite, trato da minha pequena quinta. Adoro pesca desportiva.
Como vê o futuro dos bombeiros em Portugal?
Não quero ser pessimista, mas não vejo um futuro risonho para os bombeiros, pois cada vez é mais difícil recrutar pessoal. Hoje temos elementos que ingressam nas fileiras dos bombeiros para os diferentes quadros, com habilitações superiores e que podia ser uma mais-valia para o Corpo de Bombeiros, mas a sua permanência é curta. Ao nível de elementos de comando nota-se uma rotatividade de elementos que se traduzem em custos avultado no que concerne a formação e ao tempo disponibilizado por esses elementos.
No contexto de uma situação de emergência na área dos Incêndios Urbanos, o formador Luís Araújo, relembra que as regras de segurança devem estar sempre presentes na intervenção.
Além disso, trabalhar no interior de uma edificação com calor e falta de visibilidade só por si, não é tarefa fácil. É necessário memorizar os espaços percorridos e estabelecer caminhas de fuga, nunca deixar o fogo nas costas. O treino faz toda a diferença, sublinha o formador.