Nasceu em Lisboa, em São Sebastião da Pedreira, e cresceu numa família de bombeiros, tendo começado o seu percurso na Fanfarra dos Bombeiros de Agualva-Cacém, onde ingressou como cadete aos 14 anos de idade. Após ter iniciado a Licenciatura de Engenharia de Proteção Civil, no Instituto Superior de Educação e Ciências, Sónia Rosa recebeu a proposta para integrar a equipa de formadores da área de Emergência Pré-hospitalar da Escola Nacional de Bombeiros (ENB). Um desafio que abraçou com muito entusiasmo no ano de 2008. Apesar de exercer uma atividade profissional num universo sobretudo masculino, refere que sempre se sentiu apoiada e integrada. 

Como aconteceu tornar-se bombeira? 
O gosto pelos bombeiros cresceu no seio familiar, os meus pais foram bombeiros, nasci e fui criada dentro dos bombeiros. Comecei o meu percurso na fanfarra dos bombeiros de Agualva-Cacém e ingressei no Corpo de Bombeiros com 14 anos como cadete, neste momento estou na reserva e sou subchefe de carreira.

Como é exercer uma profissão que continua a ser maioritariamente exercida por homens? 
Para mim foi um grande desafio. Apesar da incorporação de elementos femininos no meu Corpo de Bombeiros já ser uma realidade há alguns anos, a progressão na carreira de bombeiro para uma mulher não é nada fácil. Quando iniciei a minha carreira de bombeira fiz a minha recruta só com homens, sempre me senti apoiada, integrada e respeitada, o espírito de equipa era permanente. Mas, tudo muda quando avançamos na progressão da carreira de bombeiro, a responsabilidade, a competitividade e a exigência aumentam e nesta perspetiva as mulheres são vistas com outros olhos. No entanto, pelo meu empenho, trabalho e dedicação sempre fui reconhecida e respeitada por todos.

Entretanto, a ENB passou a fazer parte da sua vida profissional… 
Felizmente sou uma pessoa afortunada sempre trabalhei em áreas que gosto, na área da emergência pré-hospitalar, no atendimento das chamadas de emergência e na formação dos técnicos. O meu percurso profissional foi sempre enriquecido com muita formação em diversas áreas, e comecei a procurar uma licenciatura que juntasse áreas que me fortalecer como profissional. No seguimento da minha inscrição na Licenciatura de Engenharia de Proteção Civil, surgiu a proposta de integrar a equipa de pré-hospitalar da ENB. Recebi a proposta com muito entusiasmo, aceitei prontamente com o apoio da minha família. Esta era a oportunidade única de ministrar a formação no pré-hospitalar para os bombeiros, na entidade de referência com formação de qualidade adaptada às várias áreas do socorro.
Fiz uma mudança significativa na minha vida, aprendi muito e tive um grande desenvolvimento enquanto profissional, beneficiei de formação que permitiu a consolidação do meu percurso académico.

Que desafios importantes que se colocam à área do pré-hospitalar, no que respeita à formação? 
A área do pré-hospitalar está em permanente atualização perante as evidências científicas, a intervenção de profissionais de saúde fora do âmbito hospitalar é uma realidade em Portugal e em todo o mundo.
A capacitação destes profissionais é imprescindível, com formação específica por patamares, com orientações e protocolos de atuação a utilizar pelo técnico perante uma situação de perigo imediato de vida, como está implementado em muitos outros países.

Além da área pré-hospitalar, também acumula funções na área formativa de coordenadores municipais de Proteção Civil. Como tem sido essa experiência?  
A área de pré-hospitalar terá sempre um lugar especial na minha carreira. A área dos coordenadores municipais de proteção civil foi um novo projeto que abracei, com muito trabalho para desenvolver. Tem sido uma experiência muito exigente, trabalhosa, mas gratificante, pelo conhecimento desenvolvido e pela partilha permanente com todos os profissionais e especialistas que colaboram na formação desta área.
Fazendo uma análise à escala mundial, os acidentes graves e as catástrofes fazem parte das notícias diariamente. A proteção civil surge como uma área de inegável estratégia, com o objetivo de fazer face a estes eventos, responsáveis pelas perdas avultadas de vidas e elevados prejuízos financeiros.
As exigências que se aplicam às sociedades modernas, resultantes da multiplicidade de riscos e ameaças vivenciadas por todo o país, produzem relevantes repercussões no domínio da ação da proteção civil, exigindo a sua abordagem numa perspetiva integrada nas estratégias de prevenção, mitigação, resposta, recuperação e reabilitação, formando as estruturas municipais mais robustas e articuladas.
Trabalhamos na formação dos coordenadores municipais de proteção civil, em todas estas vertentes com o objetivo da capacitação, nomeadamente, na prevenção de riscos coletivos relacionados com situações de acidente grave ou catástrofe, assim como a participação no planeamento de atividades de mitigação dos seus efeitos, num contexto de proteção, socorro e assistência às pessoas e bens em risco, ao nível autárquico, onde se impõe, pela proximidade, um foco ao nível do Planeamento da Emergência e do apoio à Gestão da Emergência.

Recentemente passou a desempenhar funções de coordenadora da área técnica de Proteção Civil da ENB. Como tem sido este novo desafio? 
Esta área técnica está em desenvolvimento, porém exige uma adaptação constante e muitas das vezes com vários desafios diários o que me proporciona uma constante aprendizagem.

Tem algum passatempo durante os tempos livres? 
Sempre que posso, ocupo os meus tempos livres com caminhadas, cinema e não dispenso a minha ida ao ginásio que tanto gosto.

Como vê o futuro dos bombeiros em Portugal? 
Penso no futuro dos bombeiros com alguma preocupação. Os Corpos de Bombeiros atravessam grandes mudanças no que concerne ao efetivo, a alternância do quadro comando é uma realidade nestes últimos anos. Na minha opinião a profissionalização é um passo muito importante, com o acréscimo de formação e domínio nas diversas áreas, não podendo esquecer uma nova reorganização para o voluntariado que tem ainda muita importância no nosso país.